3 Descobertas Importantes Sobre Relações Complicadas e Divórcio
by Dra. Luciana Massaro, Psicóloga Especialista em Terapia de Casal
1. A Identidade Conjugal e sua Dissolução
O casamento não é apenas uma união formal entre duas pessoas, mas a construção de uma nova identidade para ambos os cônjuges. Este "eu-conjugal", como definido por Singly (1988), desenvolve-se gradualmente através das interações estabelecidas entre o casal. Quando decidem viver juntos, cada pessoa precisa se modificar internamente e se reorganizar, criando algo único e diferente de todas as outras relações.
Durante o processo de separação, observamos que esta identidade conjugal, construída ao longo do casamento, vai aos poucos se desfazendo. Este processo exige que os cônjuges passem por uma dolorosa redefinição de suas identidades individuais. É uma travessia complexa que acontece em diferentes níveis: nos pensamentos íntimos de cada membro do casal, no diálogo entre eles e na comunicação com o contexto social que os circunda.
Top tip
A reconstrução da identidade individual após um divórcio não é um sinal de fracasso, mas um processo natural de crescimento. Reserve momentos para redescobrir suas paixões individuais e refletir sobre quem você é fora da relação.

2. A Assimetria nas Decisões de Separação
Um fenômeno intrigante que observamos consistentemente é que, entre os casais que buscam ajuda profissional para lidar com questões de separação, são quase sempre as mulheres que manifestam o desejo de romper o casamento. Os maridos, na maior parte dos casos, expressam o desejo de manter a união.
Estudos na área mostram uma tendência maior das mulheres para realizarem mudanças significativas em suas vidas, assim como maior propensão para romperem o vínculo matrimonial quando não estão satisfeitas. Esta assimetria revela aspectos importantes sobre como homens e mulheres vivenciam o casamento de maneiras distintas e podem ter diferentes tolerâncias para situações de insatisfação conjugal.
Esta dinâmica nos faz refletir sobre expectativas de gênero no casamento contemporâneo e como estas moldam a experiência conjugal. O reconhecimento dessa assimetria tem sido fundamental para desenvolvermos abordagens terapêuticas mais efetivas.

3. As Surpresas do Processo Terapêutico
Um dos aspectos mais fascinantes da terapia de casal é como frequentemente o processo terapêutico revela desejos e necessidades diferentes daqueles inicialmente expressos. Muitos casais procuram atendimento com a demanda explícita de "se separarem bem" - buscando minimizar o sofrimento e os conflitos no processo de separação.
Surpreendentemente, ao longo do processo terapêutico, estes mesmos casais frequentemente entram em contato com desejos inconscientes de não romperem a relação, e acabam optando por manter o casamento. O trabalho terapêutico permite que eles acessem camadas mais profundas de seus sentimentos e expectativas.
Por outro lado, observamos também o fenômeno oposto. Casais que iniciam a terapia com o objetivo declarado de "salvar o casamento" muitas vezes chegam à conclusão, durante o processo, de que a separação é o melhor caminho para ambos. Esta aparente contradição ressalta um princípio fundamental: o compromisso da terapia não é com a manutenção ou ruptura do vínculo conjugal, mas com a promoção da saúde emocional dos membros do casal.
